terça-feira, 13 de novembro de 2012

Palavras vazias, corações cheios

Em média, cada galáxia tem cem mil milhões de estrelas. Em média, cada cérebro tem cerca de cem mil milhões de neurónios. A verdade é que cada mente que se atravessa no nosso caminho tem a dimensão de – ou, pelo menos, o potencial para ser – uma galáxia. Temos galáxias de ideias a passear à nossa volta e, ainda assim, nunca poderemos conhecer a larga maioria delas. Porque o nosso telescópio é a linguagem. Temos de a saber ler e compreender.

Tantos cérebros a orbitar a nossa galáxia pessoal e a curta vida que possuímos só nos dará o espaço suficiente para visitar, a fundo, não mais que uma ou outra dezena. Há que saber escolhê-las com a sabedoria do dia-a-dia, mas também com alguma sorte à mistura.

As palavras, por seu lado, tendem a parecer-me cada vez mais vazias. Carregam em si muito pouco do que a mente tem realmente para dizer. Ditas, levam em si uma emotividade que nos diz muito mais do que os sons que a compõem. Escritas, no entanto, são ainda mais desprovidas de sentimento. Há algumas que, com alguma magia e mestria na ordem em que são colocadas, conseguem ter um determinado efeito. Ainda assim, parecem não ser suficientes.

Uma conversa digital pode parecer do mais insensível, sensaborão e impessoal que pode haver. Porém, as palavras colocadas no sítio certo e com um contexto apropriado podem fazer mais do que mil gestos. Tenho sentido isso, nos últimos tempos. Em diversos diálogos - mas num em especial. Num em que as palavras vêm meio vazias ou meio cheias, conforme a nossa disposição quando as lemos. Optimista inveterado, bebo-as com a sensação de que trazem algum conteúdo nelas.

As amizades, paixões e amores provenientes de conversas mantidas ao longo de meses através de dois computadores separados por uns quantos quilómetros de distância sempre me intrigaram. Não que não goste dessas histórias. Pelo contrário. Fascinam-me. Têm o seu quê de medieval. Têm o seu quê de carta enviada à amada que a lerá dentro de seis meses. Aqui, neste início de vigésimo primeiro século, os seis meses foram ligeiramente encurtados para míseros segundos.

O sentimento, no entanto, permanece. Uma mensagem num chat pode despertar emoções até então desconhecidas. Engraçado como um bater de teclado a umas milhas pode fazer-se ouvir no ventrículo esquerdo do coração de um qualquer pré-apaixonado.

Na vida em geral, as leis científicas não se aplicam. Palavras vazias podem encher um coração.

1 comentário:

  1. A linguagem é nada mais nada menos do que a tentativa falível de comunicar informação, que muitas vezes é distorcida e ao ouvido menos treinado consegue passar abominações por actos bonitos.

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