sábado, 17 de novembro de 2012

Desaparecido

Alguém que conhecemos num passado mais ou menos distante e que não faça parte do presente ficou lá. Lá atrás. Imutável. É apenas uma fotografia mental daquilo que aconteceu. Um filme que acreditamos que continue a rodar incessantemente na tela de muitos felizardos. Quando a notícia da morte desse alguém nos marca um dia, impensável e inesperada, apodera-se de nós uma melancolia impotente e uma sensação surreal de irrecuperabilidade.

A pessoa que era e já não é continua a ser o que era. Na nossa mente, nada se modificou. Na realidade, dizem-nos, já não está. Faz parte doutro reino, neste preciso momento. A pouco e pouco, retorna ao pó. As gargalhadas e as piadas que fazia já não existem. Só na memória dos que conviveram com ele.
A dor terá sido, certamente, entre alguns, indescritível. Pesada, negra, insuportável. Quando a notícia nos chega aos ouvidos, porém, demoramos a acreditar nela. Sem dor propriamente dita. Apenas não cremos que aquele ser outrora tão presente já não existe. Ainda hoje, meses depois, é difícil acreditar. Parece que precisamos do lado racional do nosso cérebro a gritar às emoções que “não, já não existe, está morto”. Assim mesmo. Uma racionalidade fria e desprovida de qualquer sentimento.

Está morto.

Pois está. Mas está vivo em muitos de nós. Em mim, pelo menos.

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