quinta-feira, 30 de maio de 2013

O belo 13

Nos primeiros minutos de 2013, respirei fundo e imaginei cada um dos 365 dias que aí vinham, com todas as suas dificuldades, desafios, alegrias e milagres à espera de acontecer. Acreditava profundamente que este seria o ano da mudança, o ano cataclísmico da minha vida, aquele que definira o meu futuro. 

Não sabia de que forma tal pudesse acontecer mas, simplesmente, sabia-o. 

A verdade é que desde então tudo tem melhorado e os paradigmas têm vindo a ser alterados, aos poucos. 

Tornei-me escritor, estou prestes a lançar um livro, comecei a publicar crónicas e... Arranjei emprego novo.

Há pessoas importantes que têm assistido a tudo isto desde o camarote presidencial. Todas elas sabem que são e é a elas que estou agradecidíssimo. 

Acima de tudo, isto é esperança. A vida pode ser uma cabra de vez em quando, atirar-nos lá para o fundo do poço sem qualquer misericórdia. Mas tudo não passa de uma provação, de uma lição de humildade e, ainda mais importante, um colocar em perspectiva os nossos dias e o que decidimos fazer com eles. 

Apaguem as luzes e desfrutem do espectáculo.

"Como é linda a puta da vida." - MEC

terça-feira, 14 de maio de 2013

Elogio da idade

Tenho uma guitarra eléctrica. Tenho uma guitarra eléctrica preta que me arranca sensações únicas de cada vez que lhe sinto o peso nos ombros, de cada vez que os dedos cirandam pelas suas cordas. De cada vez que a oiço ganir e gemer a cada ataque de palheta. 

Há dias, após não lhe ter pegado durante meses, reparei que a ferrugem começava já a ganhar terreno nalguns lugares de maior uso. Junto aos orifícios de onde saem as cordas, também elas já carregadas de fuligem, nos botões de controlo de volume, até no pente que suporta as ripas de metal sonoro. 

Afligi-me. Quis pôr a minha ainda jovem guitarra no salvador das almas instrumentais, dar-lhe uma cara lavada, trocar-lhe as peças, recauchutá-la e pô-la toda limpinha e bonitinha. Como nova. 

E depois... Não.

Não quero a minha guitarra nova. São as mazelas que lhe causei que contam a sua própria história. Sãos os grãos de ferrugem agarrados ao metal que dizem o quanto já foi usada. Ao olhar para o gasto dos materiais sei quantas foram as canções ali tocadas, quais os momentos unicos e irrepetíveis, quais os dias em que me fez sentir o melhor roqueiro do planeta, apesar de estar fechado dentro de quatro paredes e não ter outros ouvidos humanos à escuta que não os meus.

Guardem-se as coisas, velhas. São elas que nos relembram que houve um passado. E que, por isso mesmo, haverá um futuro. Quando deixarem de funcionar, saberemos que, como elas, também nós não somos eternos. 

Se eu renovar a imagem da minha guitarra eléctrica, é ela quem zombar de mim quando eu estiver velho e não souber como ser levado ao salvador das almas humanas. É ela que vai dizer: deste-me a longevidade mas perdeste a tua. 

Envelheçamos à vontade. Todos.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O jogo do título

Sim, hoje escrevo sobre bola. Não é hábito meu, mas hoje acontece. (Aos não-amantes da modalidade: lamento.)

Gosto muito de futebol. Não é uma confissão. É uma declaração. Não se confessa o amor por alguma coisa quando sabemos que não é errada. Gostar de futebol é tão legítimo quanto ter um carinho especial por arroz de cabidela ou partidas de xadrez. É um jogo, um entretenimento, uma exibição regrada do expoente da capacidade humana na habilidade de manipular uma bola com os pés.

Amanhã há jogo grande. As duas melhores equipas do campeonato nacional vão bater-se por um título desde sempre ambicionado. A rivalidade é grande, adivinham-se paixões que a razão não consegue (nem quer) justificar.

Atrevo-me a usar um cliché. Pois que vença o melhor. Estou a ser sincero. Como disse, adoro futebol e esse amor profundo pelo jogo per se não me deixa ficar toldado por clubices. Simpatizo com uma equipa que não joga amanhã, mas prefiro - de longe - assistir aos jogos de quem sabe jogar. A "minha" equipa não o tem feito, não o tem sabido fazer.

Amanhã quero ver um grande jogo. Tenho a convicção (e uma ligeira vontade) que o sul ganhe a batalha, pela perseverança e regularidade do seu bom jogo mantidos durante a guerra inteira. 

Os rapazes merecem-no. Pelo bom nome do futebol e do amor dos que o sentem a correr-lhes nas entranhas. Ainda assim, guardem-se os fundamentalismos no bolso e assista-se, desinteressadamente, a um belíssimo jogo de bola. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sem musas não há arte

É a triste e indelével verdade. Sem musas não há arte. Sem elas, nada se faz. Os propósitos morrem, as vontades perdem sentidos e a força motriz artística esmorece de uma vez só. 

Cada um terá a sua. Secretamente, porém, cada um terá várias. Há momentos em que uma está próxima e, por isso, tem todo o tempo de antena, tirando a abertura a qualquer possibilidade alternativa. Há também as épocas (ou simples laivos que duram minutos) em que os se's não têm medo de se instalar. E fazem-no, vaidosamente. 

E se fosse assim ou assado, com aquela miúda giríssima, carregadinha de potencial e, no entanto, inalcançável? E se?

Possibilidades improváveis. 

Não sei como seria. Só se podem pintar quadros idílicos em telas hipotéticas. Mas, acto contínuo, nasce a arte, com a musa em mente. Nasce, assim, sarapintada e sem pedir licença. 

Francamente, já houve algumas. Mas hoje, neste dia irrepetível, és tu quem cria inspiração num cérebro semelhante ao teu. Naquela linha bonita que tive a sorte de escrever, naquele encadeamento melódico de acordes que os meus dedos fizeram soar ao escorregar pelas cordas de uma guitarra antiga. Devo-te isso. Obrigado.

"Once you feel love, you'll taste the pain." - SN