segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Insónias

Nunca fui daqueles infelizes que raramente conseguem uma boa noite de sono. É certo que não há madrugada alguma em que não acorde, mas é sempre uma questão de minutos - segundos até, talvez. Acorda-se, olha-se para o relógio, memoriza-se subconscientemente que ainda há umas quantas horas de calma pela frente antes do toque do despertador e continua-se, tranquilamente, o sono de beleza - claramente mais eficaz para uns do que para outros.

Insónia é uma palavra que nunca entrou no meu vocabulário. Sempre que alguém me dizia que acordava a meio da noite e ficava desperto como se fossem sete da tarde, olhava para esse testemunho como uma conversa saída directamente de um filme de ficção científica. Insónias. Não sei o que são e não as compreendo. Dizia eu. Dantes.

Nas últimas semanas, algo tem-me feito acordar por volta das três da madrugada.
Não, não é o café. Nem o despertador.
Animais domésticos? Também não. Não os tenho.
Maus hábitos? Também não me parece. Álcool não é coisa que se meta (muitas vezes) no meu caminho. Cigarros, nem vê-los.
Café? Bebo-os, mas não mais agora do que há uns meses, em que dormia que nem um bebé.
O que será isto então?

Preocupações. Possivelmente. Mas custa-me a crer, porque o meu lema de vida é "tudo se resolve".

A verdade é que viver uma insónia é tão surreal quanto ouvir falar dela. Saber que sou a única pessoa acordada nas redondezas. Farto-me do negrume do escuro e acendo o candeeiro. Ver aquela luz fosca e atrapalhada por tanto livro à sua volta faz-me sentir ainda mais ermo e isolado do mundo. Pareço um qualquer intelectual do século XVIII - e peço desde já desculpa pela ousadia da comparação.

Nesses momentos, passam-me pela mente as opções de vida mais alternadeiras e loucas de sempre. E se...? E se...? Não sei se o resto da malta com insónias também pensa nestas coisas ou se desenvolve uma obsessão em forma de voz interior que não conhece outras palavras que não sejam "dorme, caraças! Dorme!"

As possibilidades e as ideias para o que farei no dia seguinte são muitas. Passa-me depressa, (in)felizmente. Até um dia.

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