terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Ouvi bater à porta

Bateste à porta um dia destes. Tive medo de abrir, por não te reconhecer o rosto. Mas abri. E entraste. Pé ante pé, ao início, mas confiante no momento em que o ambiente te invadiu as narinas e te fez sentir confortável, por um qualquer motivo metafísico.

De lareira acesa, recebi-te. Com um sorriso. Ainda a medo, por não saber o motivo da visita. Só querias ver a casa, ver se valeria a pena regressar, um dia. E dar de caras com uma companhia que acreditavas ser a melhor.

Levei-te a ver os recantos mais belos, para começar. Assumidamente, para te impressionar. Consegui-o, na maioria das vezes. Mas senti necessidade de te mostrar as fendas nas paredes e os recantos por limpar, para que compreendesses que a casa não é perfeita.

Compreendeste e mostraste-te disponível para ajudar a alicerçar melhor a estrutura mestra.

Foste ao andar de cima. Viste os meus mundos. As minhas paixões, os meus baús e também os artefactos bolorentos.

A minha cama foi, por horas, uma nave espacial. Levou-te a outros planetas, contou-te histórias que nunca antes viveste. Deu-te ainda o aconchego que ainda não tinhas experimentado, na tua curta vida. Coçou-te as costas quando precisavas de relaxar.

Gostaste da casa. Voltaste. Sempre com um sorriso rasgado. Hoje mais rasgado que ontem. Hoje menos alegre que amanhã.

Bateste à porta um dia destes. Tive medo de abrir, por não te reconhecer o rosto. Mas abri. E ainda bem. Porque regressaste. E o futuro disse-me ao ouvido que, um dia destes, vais chegar com bagagens para cá morar.

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