quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Números


Não importa quem sou. Importa que existo, algures nos arrabaldes da capital portuguesa, e, dentro de alguns dias, serei mais um número nas estatísticas dos desempregados. Um número sem rosto. Um rosto sem emprego. Mas com muito trabalho em mãos.

Engraçada esta forma de nos definirmos a nós mesmos com um título profissional.

Quando me perguntam quem sou, a primeira resposta (a mais natural) diz que “sou jornalista”. Mas isso define-me? Não. Sou mais que isso. Nem pior nem melhor, apenas mais. O jornalismo é uma parte de mim, mas há tantas outras coisas que me compõem.

Quem sou eu?
Sei quem sou, mas não o consigo explicar.
Também não é importante.
Porque sou um número.

O número tem vida?
Sem dúvida.
Tem amigos?
Muitos e dos bons.
Tem namorada?
Pela primeira vez, ao fim de alguns anos, não. E confesso que é estranho.
E esse número de que falas, tem ambições?
Não muitas. Não preciso de muito para ser feliz. Ainda assim, sou ambicioso. Num mundo ideal, estaria na Universidade C., dentro de cinco anos, a dar aulas a turmas de miúdos. E disso fazer a minha vida. A ideia apraz-me muito – estabilidade, tranquilidade e estudo. Mistura perfeita.

A partir de agora terei mais tempo em mãos. Para me aplicar no doutoramento em Ciências da Comunicação – afinal de contas tenho uma tese para escrever; para aprender e compor mais música e para tentar escrever um livro. Além disso, criei um blogue. Mais um num oceano de milhões. Mas os meus textos são egoístas. São escritos, em primeira análise, para mim. À artista. Resolvo partilhá-los porque alguns podem identificar-se com eles e transpô-los para as suas vidas. Ou porque podem ser apenas um passatempo interessante para quem quiser ser uma fly on the wall na vida de um desconhecido, de um vago conhecido ou de um amigo próximo.

Não espero ter muitos leitores. Não espero ser lido muitas vezes. Mas espero fazer a diferença para quem me lê.

Sou um número. Mas prefiro as letras.

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