domingo, 14 de abril de 2013

Recordações de papel

Não tenho o hábito de os guardar. Por uma mera eventualidade, todavia, dei por mim a (re)descobrir um monte de talões antigos num receptáculo que não nasceu com esse indigno propósito. 

Um amontoado de papelada obsoleta que mais não faz senão descrever episódios recentes de uma vida que já passou ou que ainda se vai vivendo. 

Aquele quase-jantar com o B antes de um concerto intenso. Ou a refeição com o W perto de um lugar familiar e, ainda assim, com uma desconhecida. Ou, ainda, aquele lanche com uma amiga de longa data. 

Os talões falam pelos eventos pelos quais pagámos para viver. Mas dialogam também pelo antes e pelo depois. Contam histórias. Histórias que, infelizmente para todas as ricas narrativas que se poderiam construir, não ficam escritas. Ficam, isso sim, inscritas na memória de não mais que três ou quatro pessoas. Incapaz de ficar gravada algures. Presa na memória de indivíduos até ao dia em que, libertando-se, se perde para sempre. 

Guardem-se, pois então, os talões. Com legenda.

Para um dia termos alegres recordações de uma vida que foi a nossa e que não nos parece já, à distância, familiar.

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