Sentado a uma secretária que foi minha mas deixará de o ser
em breve, penso em todas as pessoas que perdem o emprego diariamente. Sem pena
ou comiseração. Apenas pensamento genuíno e com a menor emoção possível.
“Foi embora, já não trabalha cá”. O momento em que se fecha
a porta pela última vez é bem capaz de ser uma tremideira para um espírito mais
sensível. Não quero ser dramático com o meu caso. A experiência é sempre boa
quando sabemos o que fazer com ela. Por isso sei que, daqui a alguns minutos,
quando bater com aquela porta e puser o primeiro pé na rua, não é a angústia ou
a dificuldade que me espera. É a oportunidade. A sério.
Odeio aquele discurso macambúzio da crise e das
dificuldades. Mas também odeio os optimismos extremos que nos garantem que os
momentos menos fáceis são os mais profícuos. Para mim não vai ser mais fácil
nem mais difícil. Vai ser diferente. Para melhor, acredito.
Amanhã é o dia um de uma nova vida. Uma vida em que a
investigação vai ser o centro da minha existência, em que vou perceber cada vez
melhor que é o que quero fazer para o resto dos meus dias. Uma vida em que o
lazer vai ter, inevitavelmente, uma presença maior nos meus dias. Uma vida em
que as mudanças podem não ser meramente profissionais.
Mas hoje ainda é o dia zero. É aproveitar e reflectir sobre
o passado e o futuro. Planear, na medida do possível, e ir vivendo. Com quem
estiver por perto. Com quem quiser estar. Com quem fizer por estar. Aqueles de
quem gosto sabem quem são. Esses nunca hão-de ir.
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