quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Quando?

O que é, afinal de contas, isso de ser escritor? Sê-lo-ei, hoje ou algum dia? As frases jorram com maior avidez do que aquela com que as consigo atirar para o papel. Muitas ficam nos espaços entre os momentos, nos espaços entre os pensamentos.

Mas um escritor não escreve, apenas. Observa, vive, constrói um mundo que é só seu para, um dia, o entregar a quem o queira experimentar também. Mesmo que seja por um dia, mesmo que seja por uma vida. Quem sabe.

Ninguém.

Quem escreve não é escritor. Eu escrevo mas não o sou. Ainda.

Quando? Qual é o segundo genético que torna o que não é naquilo que passa a ser? Nasce-se, assim?

Um dia sabê-lo-ei. Quando me derem um cognome à altura. O escritor. Por enquanto, não o sou, para os outros. Sou escritor só para mim. Porque quero sê-lo, mais que tudo.

A escrita é o habitat natural, o lugar ao qual sempre regresso. A concha, quente, afável, de sempre. À secretária, escrevendo.

"Toda a escrita é estar parado a ver o mundo andar." - GMT

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A(r)tarantado

Carradas e carradas de ideias. Parece que um camião carregadinho de estímulos atira sobre mim, dia após dia, mais uma encomenda de forquilhas para me irem picando os dedos.

Escreve mais, escreve sobre isto, escreve sobre aquilo, parecem dizer-me.

E eu, com o tempo a escapar-se-me dos bolsos, ando atarantado com tanta arte por cumprir e tão pouca vida para a sustentar.

Vou guardando as ideias num aparelhinho que inventaram há tempos - benditas tecnologias. Sim, porque o meu sótão tem pouco espaço para tanta caixa bonita e ornamentada.

Falta abrir-lhes o conteúdo, ver o que dali sai.

Acção.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É hoje

É hoje.

É hoje que dou o pontapé de saída num sonho que pretendo manter vivo até ao último suspiro dos meus dias. As letras. A elas presto homenagem, todos os dias, e é delas que vivo.

Não fossem as letras e não sei o que seria deste rapazito.

Hoje é lançado o meu primeiro livro, um daqueles que me faltava ler. Como ninguém ainda o tinha escrito, escrevi-o eu.

Ando à procura da minha voz, nem sequer sei se sou escritor ou algo que o valha. Mas tento. Arrisco e não corto vazas aos meus devaneios criativos. Faço-o por quem me queira ler, por quem possa ou não gostar do que faço. Busco nos recantos mais ermos da minha mente os estranhos solilóquios das emoções misturadas com esta ou aquela ideia. Sem medos. Sem auto-censuras.

Tenho de agradecer à C. Há precisamente oito meses, espicaçou-me. Inspirou-me a escrever, incentivou-me. Foi a primeira a ler o rascunho do meu livro. "Publica", disse. Querer-me-á alguém?, interroguei-me.

Tenho de agradecer ao FR, o portentoso vocalista de uma das maiores bandas nacionais de todos os tempos. Aceitou generosamente apresentar o meu primogénito literário.

Aí está ele. Saiu hoje.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Inquietações

O tempo urge sempre, daí que a paciência seja uma das maiores virtudes. É preciso esperar, saber o momento certo, ouvir as pessoas ideais. Ousar saber. Mais que isso: ousar ser sábio. 

A primeira frase de um livro novo é irrepetível e, ao mesmo tempo, um ponto sem retorno. Começou-se. Se fica inacabado, é um falhanço ou, pelo menos, obra sem voz e sem expressão. O peso sobre os ombros de se trilhar o caminho até ao último ponto final é quase incomportável. Leva-se a paciência ao extremo, página a página, linha a linha. Sem contar, sem olhar para o número e atentar simplesmente na qualidade do que é escrito. Siga-se caminho sempre de olhos postos lá na frente, na curva seguinte e na contracurva que não se deixa antever.

Os primeiros passos estão dados, as primeiras pegadas impressas na terra batida. Ainda há horas, dias ou meses pela frente. A escrever - como a ler - é o caminho que faz a viagem, não o sítio que nos aguarda.

"Subi à montanha e olhei lá para baixo. Pensei, se me atiro daqui abaixo, acabou-se tudo, não há mais livros." - JS

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ideias que aparecem sem avisar

Não é segredo para ninguém que ando a escrever outro livro. Acontece que a busca por uma boa história se torna incessante. Acho que encontrei uma narrativa capaz de fazer o que a literatura faz (ou deve fazer). Descobri um caminho. Até que.

Até que se me deu um nó na construção do caminho das personagens. Estagnei, ali, algumas semanas.

É precisa pachorra para escrever. Nem tudo surge em catadupa, as páginas não se avolumam ao ritmo pretendido. Ao mesmo tempo, há outros leitores para manter entretidos. Senão se aparece, é-se esquecido. Tornamo-nos irrelevantes.

Felizmente, as coisas boas aparecem-nos à frente quando menos esperamos. Também assim acontece com as ideias. Esta manhã, foi assim.

A meio da habituada caminhada matinal pela ainda vazia baixa lisboeta, uma ideia esperava-me a uma esquina, como quem pede lume para acender uma cigarrilha. Falei com ela e aceitei-a como desbloqueio mental.

A parte mais interessante no meio de tudo isto é o efeito imediato que as ideias trazem aos paradigmas por nós mesmos estabelecidos. Tinha um título para o novo livro há coisa de três meses. Hoje, de um pinote, o título ficou invertido a 180 graus, só por causa de uma simples ideia.

Fascinam-me as máquinas poderosas que todos albergamos nos capacetes cranianos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Resolução

Ao olhar para as prateleiras da biblioteca, há lacunas que falta preencher. Busco pelas livrarias e não acho o que pretendo.

A conclusão surge. Farei os livros que me faltam ter.

domingo, 16 de junho de 2013

Letras, letras e mais letras

As últimas semanas têm sido pródigas em novidades. Se nos últimos meses me queixava por nunca ter muito que fazer e procurava manter-me ocupado com tarefas ligadas ao enriquecimento cultural e ao desentorpecimento das habilidades guardadas debaixo do capacete craniano, agora sinto-me no ambiente que me tem vindo a definir. Inundei-me em trabalho.

Gosto desta maravilha que é fazer várias coisas ao mesmo tempo, com um denominador comum: as letras. Quanto mais escrevo, mais quero escrever. Sete ocupações distintas e de todas dependem as palavras que escrevo. Se algum dia perder a capacidade do raciocínio encadeado ou da mais pura visão do que escrevo e leio, perco com elas a vida. 

Bem sei que nem todos têm este gosto extremo pelas palavras e pelo que podemos fazer com elas. Ainda assim, quem se apaixonou por palavras e letras, sabe bem do que falo. O espantoso no meio de tudo isto é a viagem agradável que se faz de tarefa em tarefa. Agora uma crónica, agora um texto para o blogue, agora uma página de um próximo possível livro, agora três linhas definidoras de uma tese de doutoramento. Cansado? Então pára. Para ler. 

Assim será a minha vida nos próximos 12 meses, pelo menos. Haja energia.