A arte fascina-me. Por um vasto lote de razões. Porque invejo (alguns d)os artistas, por tamanhas criatividade e complexidade intelectual. Porque me revejo nas obras artísticas. Mas, acima de tudo, porque retiro delas um sentido para a vida.
Ontem, em conversa com a C, falava interessada e despreocupadamente sobre a minha paixão pela arte contemporânea, essa estranha técnica de transpôr pensamentos para objectos. Ao longo da mini-tertúlia, dava-lhe conta de alguns exemplos que encontrei numa exposição que visitei recentemente. Entre eles, um frigorífico amolgado, ao lado do qual um vídeo é mostrado ao visitante, onde se podem observar alguns indivíduos apedrejando o já de si inanimado electrodoméstico.
Aplicada à vida, a arte dá-nos lições. Aquele frigorífico não deixou de o ser, por muitas pedradas que tenha levado e por inúmeras pintalgadas mossas que ostente. Quem mais somos nós senão um frigorífico que, sem ter perdido a sua essência e função principal que nos conferem a pureza da nossa existência, não deixa de viver apesar de ser apedrejado uma e outra vez?
Não devemos esquecer-nos de que a teoria regenera sempre a prática. É o pensamento que nos melhora o quotidiano. O nosso e o dos outros. Com a sua subjectividade, a arte sensibiliza-nos. Porque nos mostra, a todos, o caminho que temos para trilhar. Porque cada um de nós sabe de onde vem.
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