Estava deitado, fitando o tecto branco do quarto após ter derretido, à força do olhar, cinquenta páginas de um livro recém-lançado. Pousado o compêndio de folhas que só ganham sentido quando ordenadas numa única disposição, olhou para dentro. Fixou-se. E, por momentos, sentiu-se desconfortável.
A falta de sensibilidade assemelhou-se-lhe a uma doença. A alma adormeceu-se-lhe, como se tivesse tomado uma dose excessiva de soporíferos. Questionou-se. Ponderou as possibilidades que lhe pudessem causar alterações ao estado de espírito e muito pouco o assombrou.
Caiu em si, estarrecido com tal eventualidade. Será assim mesmo, indaga. Talvez não. Mas, por agora, nada é, nada o emudece de pânico, muito pouco o arrebata e, acima de tudo, apenas as hipóteses aparentemente idílicas e improváveis o deixam escapar de si mesmo e imaginar um outro eu.
Está, portanto, pronto para encerrar as dormências da alma e, enfim, sonhar.
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