quarta-feira, 17 de abril de 2013

História nova

Não consigo explicar como me nascem as ideias. Quando dou por mim, já as estou a desenvolver. 

Saio de mim, vou para longe. Embarco na história, construo possibilidades, testo-as. E, sem esperar, volto a mim. E descubro-me. Onde estou a pensar nisto? Ao volante, no duche, ao deitar, ou até mesmo quando a minha sombra desliza sobre a calçada portuguesa. 

Tenho o puzzle todo aqui. Acho que os próximos meses serão passados a montar-lhe as peças.

"Até na execução de rotinas há micromudanças." - MF

domingo, 14 de abril de 2013

Recordações de papel

Não tenho o hábito de os guardar. Por uma mera eventualidade, todavia, dei por mim a (re)descobrir um monte de talões antigos num receptáculo que não nasceu com esse indigno propósito. 

Um amontoado de papelada obsoleta que mais não faz senão descrever episódios recentes de uma vida que já passou ou que ainda se vai vivendo. 

Aquele quase-jantar com o B antes de um concerto intenso. Ou a refeição com o W perto de um lugar familiar e, ainda assim, com uma desconhecida. Ou, ainda, aquele lanche com uma amiga de longa data. 

Os talões falam pelos eventos pelos quais pagámos para viver. Mas dialogam também pelo antes e pelo depois. Contam histórias. Histórias que, infelizmente para todas as ricas narrativas que se poderiam construir, não ficam escritas. Ficam, isso sim, inscritas na memória de não mais que três ou quatro pessoas. Incapaz de ficar gravada algures. Presa na memória de indivíduos até ao dia em que, libertando-se, se perde para sempre. 

Guardem-se, pois então, os talões. Com legenda.

Para um dia termos alegres recordações de uma vida que foi a nossa e que não nos parece já, à distância, familiar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Desaparecido

Nos últimos dias, não escrevi. Vivi.

Olhei, absorvi. Não pus pensamentos num disco rígido, muito menos os gravei numa folha de papel.

Vivi, deixei-me estar. Ri, gargalhei, ouvi, tentei aprender, temi por mim e pelos outros. Meti na gaveta a presunção de que tenho algo a ensinar a quem me quiser ler as letras ou ouvir as palavras. 

Analisei vidas que não são minhas. Fugi de mim à procura de outras estórias - até porque não há nada a tirar desta rotina quase pobre. 

Muni-me de quem vi.

Li. Bebi de quem sabe.
Vivi. Aproveitei cada gesto, cada experiência. 
Enchi o depósito.
Amei cada segundo. Mesmo.

Nos últimos dias, não escrevi; vivi. Hoje, empunho a caneta mais uma vez. E escrevo. Mas não deixo de viver. Faço-o, só que de outro modo.