quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Quadro novo

Sem querer, construímos novas paisagens onde reaprendemos a movimentar-nos. A mesma moldura, outra imagem. A mesma vida, outros hábitos. A mesma identidade, outro paradigma.

Nós. Sempre nós e as sacanas das nossas decisões. Sempre.

Nada muda verdadeiramente, ainda assim. Por muito que aprendamos.

E, de repente, uma dúvida.

Terei já vida suficiente para escrever o meu próprio livro?

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Insónias 2.0

Deitado. De olhos fechados. Tranquilo. Aparentemente.

Por dentro, irrequieto. O meu coração ribomba e faz-se ecoar nos meus ouvidos com uma ressonância incrivelmente anormal. Não há decibéis que meçam toda esta barulheira.

São 3h28 da madrugada. Não há sono que me assalte. Porquê?, pergunto. Não sei, respondo. Quero dizer...

... até sei. Talvez não o queira admitir a mim mesmo.

Sou vagabundo encurralado nos meus próprios dias. Vagueio pelas ruas do pensamento sem encontrar estradas que não terminem em soturnos, frios e escuros becos.

Tenho sono, agora. Mas... Terei? 

Nunca adormecerei deste pesadelo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O passado como caneta do futuro

Estamos condicionados pelo que fizemos ontem, durante a semana passada ou há uma década. Quer queiramos quer não, é isso que nos define. ainda que nos arrependamos do que fizemos ou dissemos a alguém que teve a sorte (ou o azar) de se cruzar connosco, algures, num dia de uma página de calendário já rasgada.

Independentemente disso, parecemos não dar conta dos eventos importantes nos precisos momentos em que se escarrapacham diante dos nossos narizes empedernidos. Aquilo que represente um pequenito bater de asas de uma borboleta pode bem capaz de ser, bem vistas as coisas, o (ou um dos) evento(s) sísmico(s) catalisador(es) e dinamizador(es) das nossas vidas. 

Aquela pessoa que começou por ser mais ou menos indiferente pode vir a ser o humano que partilhará toda (ou, pelo menos, grande parte) da sua vida connosco. Aquela decisão ínfima pode definir o caminho que percorreremos nos próximos tempos. Aquele livro que nem estávamos a contar ler pode dar-nos uma lição para todo o sempre. 

As frases que escrevemos no passado também contam a nossa história. E, acima de tudo, são as notas aparentemente dissonantes que carregam toda a originalidade daquela música que tanto veneramos. Prestemos, pois, a devida atenção aos detalhes, para um dia lhes conferirmos o seu devido valor.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Decisões. Das grandes.

O momento em que uma decisão nos acerta é incomunicável, não somos capazes de descrever o sentimento em questão, o fulgor que se ergue dentro de nós, a ânsia no peito com vontade de efectivar isto ou aquilo com efeitos práticos e imediatos.

A todos os (especialmente nos mais improváveis) momentos, uma nova actualização, uma nova ideia, uma acha fresca pronta para ser queimada na fogueira de pensamentos que acarretamos em nós. Todos os locais se tornam icónicos pela epifania que em nós operaram.

Quando tomamos uma decisão, é isso que se torna no centro da nossa própria existência, ainda que, por vezes, tal aconteça por pouco tempo. Numa chama atiçada do passar dos dias, acreditamos que é uma mudança de caminho que nos pode alterar profundamente a vida. 

No meu caso em concreto, não sei se é. Dentro de alguns meses, sabê-lo-ei. Até lá? Fazer. Fazer, fazer, fazer. Insistir até não mais valer a pena.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A um herói que nasceu há dias

Não costumo torcer o nariz às dificuldades. Da mesma forma, admiro quem as enfrenta com o fulgor de um cão danado em busca daquele naco de carne que vale pela vida. Olho como heróis aqueles que conseguem feitos que, a mim, me parecem inalcançáveis, de tão difíceis que são de transportar para o meu próprio quotidiano. Há poucos dias, um dos meus melhores amigos tornou-se num verdadeiro herói.

Perder um amigo de infância às mãos da emigração é tão indolor quanto arrancar um rim a sangue frio. É um quase-luto de alguém que já foi, que era e que já não é. Não por ter morrido, mas por lhe terem assassinado (ou mesmo suicidado) as possibilidades de uma vida melhor. Chamem-lhe governo, troikas, conjecturas sócio-económicas ou simplesmente azares da vida. Mas o estoicismo desta gente que muda de rumo por dias melhores é de louvar. Eu não conseguiria - admito-o. Ou, por outra, teria de o conseguir se me visse forçado a tal. Mas a muito custo e só depois de testar todos os outros subterfúgios possíveis e imagináveis.

Uma coisa é certa: G, tens uma estatueta dourada cá em casa. Eu e os teus aguardamos o teu feliz regresso. Boa sorte nas tuas aventuras por terras escocesas.

Podes não ter um país inteiro a torcer por ti, mas o que aí farás representará, para muitos, o país onde nasceste e que agora deixaste.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um reencontro daqueles

Os anos. Esses malditos e tramados abstractos que se acotovelam entre amigos e levam a melhor nessa separação indesejada mas, nuns casos ou noutros, inevitável.

Os anos passaram. Deram-nos umas oportunidades e tiraram-nos outras - nomeadamente as de v(iv)er alguns dos amigos que cresceram junto a nós. Ainda assim, há possibilidades que são isso mesmo: possíveis.

Ontem, graças à vencedora vontade do querer fazer acontecer, houve História. Dessa, precisamente, com maiúscula. Juntou-se um grupo que, não tivessem sido as marcantes vivências próprias da infância, não mais seria que composto por simples desconhecidos. 

Encontrámo-nos. Num restaurante ermo. Fui dar com eles em amenas cavaqueiras, já jantados. Não tenho vergonha em dizer que me emocionei ao ver alguns daqueles rostos, ali assim, hoje tão adultos e, invariavelmente, com os traços risonhos e meninos de outrora.

Entre eles, seres humanos que, de uma forma ou outra, ajudaram a definir a pessoa que hoje sou. Dois deles foram os meus melhores amigos ao longo de meses e meses e meses. Sim, I e AM, estou a falar de vocês. Por perto, um dos mais duradouros e resistentes (e, lamentavelmente para o meu pequenito eu de há anos, não-correspondido) amor: M.

Estar, uma década depois, na presença de um grupo que foi ambiente natural do meu crescimento é esmagador. Porque olho para todos eles e a familiaridade daqueles olhares, daquelas vozes e daquelas gargalhadas é para mim fonte de gigantesco fascínio. Porque, ao mesmo tempo, ponho em perspectiva tudo aquilo em que me tornei para concluir que, para todos os efeitos, continuo a ser o rapazinho daquela escola. O mesmo que meneava a portentosa mochila ao mesmo tempo que viva em comunidade com aquela gente. 

Estamos crescidos. E, ainda assim, estamos na mesma.