sábado, 12 de janeiro de 2013

Recordações de papel

Não tenho o hábito de os guardar. Por uma mera eventualidade, todavia, dei por mim a (re)descobrir um monte de talões antigos num receptáculo que não nasceu com esse indigno propósito.

Um amontoado de papelada obsoleta que mais não faz senão descrever episódios recentes de uma vida que já passou ou que ainda se vai vivendo.

Aquele quase-jantar com o B antes de um concerto incrivelmente intenso. Ou a refeição com o W perto de um lugar familiar e, ainda assim, desconhecido. Ou aquele lanche com uma amiga de longa data.

Os talões falam pelos eventos pelos quais pagámos para vivenciar. Mas falam também pelo antes e pelo depois de cada experiência. Contam uma história. Uma história que, infelizmente para todas as ricas narrativas que se poderiam construir, não fica escrita. Fica, sim, inscrita na memória de não mais que duas ou três pessoas. Incapaz de ficar gravada algures para a posteridade. Presa no cárcere de memórias até ao dia em que, libertando-se, se perdem para sempre.

Guardem-se os talões. Com legenda, para que um dia tenhamos alegres recordações de uma vida que foi a nossa mas que não nos parece, já, reconhecível.

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